segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Tragédias quando nos esquecemos da Água&Floresta




Esquerda: rio Pinheiro na década de 30. Direita: desmoronamento em SC
Políticas para a preservação da Água&Floresta - Ivy




Todo verão é a mesma coisa: chove torrencialmente, cidades inteiras ficam alagadas e casas localizadas em morros desmoronam. Algumas vezes, esses acidentes tomam dimensões que comovem a todos, como o caso recente de Santa Catarina, onde, até o momento da elaboração deste post, 114 óbitos haviam sido registrados.




Vamos refletir um pouco: na formação das cidades muitos rios foram canalizados. Em São Paulo, o rio Pinheiros, que era cheio de curvas em toda a sua extensão, foi colocado num "corselet" de concreto e ficou retinho e pelado, sem nenhuma árvore em seu entorno (fora as poucas nas calçadas e uma graminha sem vergonha). Outra coisa curiosa: inverteram o curso do rio! Quando chove, o rio transborda, numa reação à ação antrópica. A grande justificativa para essa obra foi acabar com as constantes inundações. Por favor, alguém me esclareça: as inundações acabaram????




Em Bauru, temos o mesmo caso, um pouquinho mais grave. O Ribeirão das Flores, que corria desde a altura do Anfiteatro Vitória Régia (ainda existe uma nascente por lá, que serve de abrigo para indigentes e como depósito de lixo), foi canalizado e sobre ele foi construída a Avenida Nações Unidas. Toda chuva, por mais fraca que seja, causa um enorme transtorno na altura da rodoviária, só de bote é possível passar por lá, fora que todo o trecho se enche de terra e facilita a ocorrência de acidentes.




A tragédia que recém aconteceu em Santa Catarina nos chama a atenção pela quantidade de óbitos. Além disso, mais de 78.000 pessoas tiveram que deixar suas casas! Uma imagem, em especial, chamou a minha atenção: a do morro que desmoronou com várias casas... um casal que morava em frente conseguiu filmar todo o acontecimento. Mas o que não está em discussão na mídia, mas circula nas listas ambientalistas, é a total omissão e descaso do governador de SC, Luiz Henrique da Silveira, que, quando foi prefeito de Joinville, declarou abertamente que os ambientalistas atravancavam o desenvolvimento. Recusou-se, já na condição de governador, a criar unidades de conservação em áreas hoje alagadas. Ganhador do troféu Moto-serra em 2006, esse senhor agora atribui toda a culpa da tragédia às chuvas (pobre São Pedro, nem pode se defender diante do herege). O presidente Lula esteve em SC semana passada e destinou quase R$2 bilhões para a recuperação dos municípios atingidos (que dinheiro trará as vidas de volta, ou mesmo reconstituirá a rotina das milhares de pessoas desabrigadas e traumatizadas por ver tudo o que tinham indo, literalmente, por água abaixo???).




As políticas de preservação da Água&Floresta não beneficiam apenas ambientalistas, ou o que é natural. Elas podem salvar vidas, gerar renda e, principalmente, garantir que novas vidas possam habitar este mundo. Infelizmente, aqueles que são responsáveis pelas políticas públicas não têm a humildade de reconhecer o equívoco de suas posturas de desenvolvimento a qualquer custo mesmo quando fica evidente sua relação com as catástrofes.




Independente dessa palhaçada política, vamos nos solidarizar com aqueles que não têm culpa (ou têm uma parcela por darem seus votos a pessoas que não têm compromisso público), mas estão sofrendo neste momento.




Grande abraço a todos e até semana que vem!

Um comentário:

Unknown disse...

É, minha cara! E aí ficamos nós, cidadãos que já pagamos impostos, e questionamos os governos obrigados a colaborar mais uma vez. Falta todo tipo de responsabilidade: ambiental, política, econômica, social..... Esse é o "povinho" que habita nosso país (e mundo). Sinceramente..... Salve a natureza, ela dá conta de exterminar quem não pensa antes de degradá-la. Basicamente um sangue por sangue.