sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O valor sagrado do Mito

Saulo em "Mitos e Meios Ambientes"

Joseph Campbell, em seu livro “O Poder do Mito”, já anunciava que os mitos refletem a necessidade da sociedade, no entanto o mito também diz ao homem como o seu meio natural deve ser tratado. Através do mito, o homem decide como colocar em prática a sua relação com a natureza.

O sistema econômico atual –  que deveria ser uma avenida de trocas em que “se alguma coisa não é necessária aqui, esta coisa com certeza é necessária acolá” – se resumiu a um simples controle da natureza.  Há, provavelmente, uma necessidade psicológica no homem de governar a natureza, o meio ambiente que o cerca, a fim de afirmar a sua soberania, e para isso ele cria mitos de controle, códigos de conduta inseridos na cultura de modo que a lei dos mais espertos dita a maneira que a sociedade evolui.

Tais regras de conduta moldam a ação coletiva perante o meio ambiente e impedem, de certa forma, que o indivíduo seja alheio a tais normas porque o que existe é uma fusão do comportamento cultural do coletivo dentro da natureza. Assim, quando o mito serve como justificativa para o homem explorar o seu ambiente, ele faz com que a “praticidade” se torne muito desigual e, por assim dizer, nada coletiva. A norma mitológica do lucro implica que, por exemplo, um país rico como os EUA pode simplesmente jogar milhares de toneladas de alimentos no oceano para não desvirtuarem as regras do mito. Na Etiópia e em Serra Leoa morrem mais de mil pessoas por dia e na Europa eles jogam comida excedente no mar. Isso é claro, porque a produtividade deles é maior do que a demanda. Essa não é uma praticidade, digamos, eficiente.

Os mitos sagrados do mundo surgiram de uma necessidade prática que é harmônica com as leis da natureza. Por exemplo, na Índia, as vacas não são mortas porque são sagradas, porque suas religiões e seus mitos não o permitem, elas são sagradas porque a utilidade delas para a extração do leite e cultivo da terra para a produção de alimentos é uma necessidade coletiva. Agora, o mito ocidental já tem outra perspectiva: o sagrado consiste em sanguinários frigoríficos que vendem carne a um preço elevado.

O mesmo acontece na derrubada de árvores. Nossas florestas, com árvores de 300 anos, estão sendo, ou já foram vendidas, quando a própria vida depende delas, e isso acontece porque o homem esqueceu o valor sagrado do mito. Quando o mito não tem o seu valor sagrado intrínseco, ele é destrutivo. É construtivo para poucas pessoas, mas o mundo é grande e está cheio de gente. Isto é uma humanidade, embora não pareça de forma alguma.

Os deuses da vegetação, Ísis, Tammuz e Áttis há milhares de anos refletem o valor natural dos ciclos: o fato de que as árvores, assim como nós, deveriam morrer por si mesmas e, também pelos próprios frutos, deveriam renascer. É certo que temos o poder de fazê-las renascer, mas não é chegado a nós o autoridade para destruí-las.

Fica ai a reflexão acerca da perda desses valores milenares que contribuíram para formar a sociedade atual, em que a negligência e a desconsideração motrizes das ações humanas fatalmente criaram uma civilização que profanou os seus lares originais.

 

Abraço a todos!

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