sexta-feira, 13 de março de 2009

O valor sagrado do Mito II


Saulo em "Mitos e Meios Ambientes"

Na mitologia antiga, a Deusa Gaia é a fonte a partir da qual todos os outros deuses se originam. Sua personificação simboliza os valores inerentes à Terra. 

No início, Gaia proveu a matéria e todos os seus elementos, trazendo a chuva e consigo germinou suas sementes, de onde brotaram todos os seus filhos. Ela, como energia primordial de toda a vida na matéria, fez-se presente em toda a sua extensão, representando assim a unicidade da natureza, transmutando cosmos em caos, e caos em cosmos. 
Sua força, seu poder e sua glória são encontradas quando gotas de orvalho deslizam em flores de lótus para dentro do oceano, no vôo dos pássaros, na corrida dos animais silvestres, nas montanhas e nos rochedos densamente vibrantes. 
Gaia é a vida ordinária da natureza que sempre se auto-regula rumo ao equilíbrio, que é seu estado original. Gaia é terra, o que nos está próximo, o comum, o nosso lar natural. 

O patriarcalismo Cristão nos trouxe, com grande impacto, uma reviravolta na maneira como encaramos Gaia. Ela encontrou, em seu oposto, o Céu, uma grande barreira e a porta para a luta constante que conduz sempre ao desequilíbrio, o qual é criado, de fato, pelo homem, cujos olhos começaram a se direcionar ao Céu, esquecendo a importância do seu lar, a Terra. A depreciação do que é próximo e o sonho com o distante se tornaram modos de vida arraigados no inconsciente da mente humana. 

As próprias pessoas que queimam florestas, provavelmente, estão falando, ou um dia falarão: "que Deus nos ajude, que os Céus nos ajudem". Mas o Céu não ajuda.
O que ajuda é compreender a mensagem de Gaia. A sua mensagem é que nós somos um pedaçinho dela, como se estivéssemos ligados por um fio invisível, um liame em que nossas ações trazem, de forma ou de outra, resultados aqui ou acolá. 
A Terra tem sido sacrificada em nome do seu oposto, que é um sonho distante. É assim que o homem vive - vive sonhando. E quando acorda, o estrago já está feito. 

Como é muito difícil para o homem reconhecer a si mesmo como aquele que tem que ajudar Gaia, ele segue, através de nomes instigantes - como "economia", "política", "desenvolvimento social", fugindo da responsabilidade de maneira destrutiva e repugnantemente violenta. 
As influências da mentalidade da Idade Média ainda permanecem, embora com menos força, já que é inconsciente. 
Felizmente, os conceitos de Gaia tem sido resgatados. James Lovelock, cientista de respeito internacional, surgiu novamente com a teoria de que a Terra é realmente um ser vivo - embora não pareça - através da Hipótese Gaia. A identidade sagrada da Terra, perdida há muito tempo, está sendo resgatada, apesar de que muitas forças do passado ainda lutam terrivelmente contra esta nova - ou não tão nova - possibilidade. 
A mentalidae judaico-cristã de considerar a Terra como simples matéria morta está crescentemente perdendo cenário. 

Assim, o simples reconhecimento desta Mãe da Natureza, como a energia criativa que anima os nossos corpos, ajuda-nos a manifestar de fato a nossa reverência ao meio ambiente, a tudo que nos cerca, rumo não a mais devastação e conflito, mas a criação, sustentabilidade verdadeira, e equilíbrio consciente. É possível que Gaia passe a nos entender, se tivermos a coragem de começar a entendê-la: o seu chamado sagrado, que está aqui, bem aqui, impresso primordialmente em nossas células.

Abraços e até a próxima!

Nenhum comentário: